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Brasil na alienação dos sentidos negativos da política, corrupção generalizada, a falta de reforma política... o ficha limpa não passa o Brasil a limpo!

Enfim, este país de vossas excelências, as mariposas políticas, o povo vive de utopia, pela miséria controlada afim de eleições e reeleições, donde o dinheiro público é investido ao bem patrimonial de políticos; e os jovens se perdem em redes sociais falando que vão ao banheiro!


novembro 27, 2011

As mulheres do poder

A posse de Benedita da Silva — ex-senadora pelo PT — como governadora do Estado do Rio de Janeiro, traz a tona a discussão sobre a ocupação pelas mulheres do espaço político, particularmente nos mais altos cargos do poder executivo.


A reivindicação de espaço para as mulheres nos partidos políticos em todas as eleições — com a exigência de percentuais obrigatórios de candidaturas femininas — é bandeira levantada pelo feminismo burguês, para todos os partidos, desde os que são chamados de esquerda aos de direita.

A atitude parte da premissa de que o fato de ser mulher dá as candidatas, sem qualquer distinção, o aval de honestidade, sensibilidade, criatividade e outros quesitos, dentro da concepção de que é necessário lutar pela ocupação de todos os espaços pelas mulheres, como garantia de sua condição de igualdade com os homens.

A posse de Benedita é saudada como uma conquista tripla: mulher, pele escura, nascida e criada na favela. No dia de sua posse, enquanto se preparava a solenidade com pompa e circunstância, a polícia carioca era acionada para reprimir uma revolta popular no Complexo do Alemão. A população se insurgira em rechaço ao assassinato de um garoto de 12 anos como consequência de mais um tiroteio contra traficantes. A nova governadora não titubeou, mandou a polícia pôr fim a "desordem".

Benedita da Silva, a deputada, senadora, agora governadora, "mulher, negra e favelada", como afirma seu slogan de campanha — armada da "sensibilidade especial que lhe confere o fato de ser do sexo feminino", agiu com a firmeza, a presteza, a honorabilidade de todos os que ocuparam antes o palácio de onde hoje governa. Ou seja, acionou os órgãos de repressão para atacar os que se defendiam da violência policial que mais uma vez tirara a vida de uma criança, em lugar de punir os responsáveis por mais um assassinato, a punição dos que se rebelam contra esta situação insustentável.

A governadora Benedita da Silva inaugura seu mandato, tão aplaudido, com a formação de uma força tarefa — polícia militar, federal e o exército — para conter a revolta popular nas áreas mais sofridas do Rio de Janeiro, áreas que ela diz conhecer profundamente e que, segundo seu primeiro ato no governo, necessita unicamente de repressão policial para solucionar seus gravíssimos problemas. Enquanto isso, encantada com o novo cargo, muda-se para o palácio das Laranjeiras com toda a família e demagogicamente anuncia pela imprensa que seguirá promovendo sua famosa feijoada em seu antigo endereço.

Na maior metrópole da América Latina — São Paulo — a mulher "ocupa seu espaço" no mais alto cargo do executivo municipal. A cidade de São Paulo é governada por Marta Suplicy, também PT. Marta é mulher, branca, nascida em família "nobre" — é bisneta de conde e neta de barão — e criada nas mansões dos bairros da grande burguesia paulista. Da mesma forma que Benedita, a prefeita é glorificada como o exemplo da elegância no poder. A imprensa de sua gente louva o luxo da prefeita afirmando que "o espetacular no seu caso é que leva aquela elegância também à prefeitura. Durante um tumultuado almoço em que distribuiu sopa a um grupo de desabrigado, Marta vestiu um belíssimo terno azul-piscina". Na mesma matéria fotos mostram a prefeita exibindo roupas de grife, cujos preços são uma afronta sem tamanho à miséria do povo: em visita a um bairro da periferia vitimado pela enchente, a "elegante" prefeita enfrenta a lama usando sapatos italianos Salvatore Ferragamo que custaram a bagatela de 1.000 reais. Em festa de casamento da família Safra aparece trajando a grife japonesa Kenzo, num vestido que custou 10 mil reais. Completando a orgia da prefeita "chique", sua festa de aniversário de 57 anos, para 500 convidados, dividida com o deputado José Dirceu que também celebrava seu aniversário, reuniu representantes da alta burguesia com a corte do Partido dos Trabalhadores, destacando-se o, pela quarta vez consecutiva, presidenciável Lula.

No Nordeste, Roseana — governadora do Maranhão pelo PFL, mulher, branca, nascida e criada nos latifúndios da família Sarney, desiste da candidatura do mais alto cargo executivo do país, a Presidência da República. Outro exemplo da ocupação do espaço, tradicionalmente masculino, pela mulher que não resistiu mais que algumas semanas. Desmoronou-se a candidatura de Roseana pela prática mais antiga dos políticos machos: a corrupção, as caixas de campanha não tributáveis.

A participação da mulher nos altos cargos do poder público ou privado, não prova outra coisa que a falsidade do feminismo burguês na tese da "natureza feminina". Tese anticientífica, desenvolvida pelas classes dominantes, desde a Antiguidade, que buscavam "provar" a inferioridade da mulher frente ao homem. Modernamente, essa falsa e descarada teoria do feminismo burguês contemporâneo, contrapondo-se ao "pecado original de Eva", à mulher um poder mítico oriundo de uma "pureza original".

A questão da subjugação da mulher é um problema de classe. Queira ou não o feminismo burguês, as mulheres estão presentes em todas as sociedades, em todos os países, divididas em campos opostos, ou seja, pertencem elas às classes dominantes ou às classes dominadas. Da realidade não há como fugir, a não ser em plataformas eleitorais, onde a demagogia e o cinismo não têm limites e os programas e o papel aceita tudo.

A luta das mulheres por sua emancipação, isto é, por colocar-se em condição de igualdade com os homens, é parte da luta pela libertação de todo o povo, é parte da luta de classes. Nos marcos do Estado burguês a ascensão de algumas mulheres aos altos cargos de governo nada mais é que o reforço do status quo, não passa de uma caricatura de sua emancipação.

No século 19, as mulheres das classes dominantes convocavam as massas femininas operárias à luta pelo direito de freqüentar a universidade nos cursos de Medicina, Engenharia e outros permitidos apenas aos homens. Entretanto, como foi denunciado pelo movimento feminino socialista da época, isso não passava de uma manipulação, já que, na realidade, as mulheres operárias, neste sistema, jamais freqüentariam a universidade, pelo simples fato de trabalharem, em condições sub-humanas, nas fábricas por 14 horas todos os dias de suas vidas. Nos atuais tempos modernos as mulheres brasileiras são chamadas a apoiar candidaturas femininas aos cargos que justificam o guarda-roupa milionário de Marta Suplicy e o genocídio da polícia de Benedita da Silva.

O poder executivo, legislativo e judiciário é o poder das classes dominantes. Portanto, ocupá-lo implica aceitá-lo, optar por ele, com maquiagem ou sem maquiagem. As mulheres burguesas, as mulheres latifundiárias e as mulheres oriundas da favela, dentro da máquina desse poder reacionário, ocupam um único espaço: o espaço reservado aos homens e mulheres das classes dominantes para melhor explorar e oprimir a imensa maioria da população laboriosa do Brasil e do mundo.

De toda essa libertação da mulher, tão ensalsada pela mídia, só restou a triste ironia da "mulher, negra e favelada" que ascendeu ao poder de Estado para reprimir os favelados e a ridícula fachada de "esquerda" para perpetuar o domínio da decadente quatrocentona família burguesa paulista. Ou será que a candidatura de Rita Camata a vice-Presidente, de "salto alto e maquiagem", para tentar salvar o naufrágio de Serra, nos provará o contrário?


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